segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Chegadas e Partidas | Dezembro de 2012


Chegadas e Partidas | Dezembro de 2012


Procuro uma alegria
uma mala vazia
do final de ano
e eis que tenho na mão
- flor do cotidiano -
é voo de um pássaro
é uma canção.


Carlos Drummond de Andrade, 1968




O verso presente no início desta publicação foi tirado de um dos Poemas de Dezembro de Carlos Drummond de Andrade, poeta brasileiro que retratou de uma forma simples e reveladora, este mês que encanta gerações e transcende espiritualidade. No cinema não seria diferente, houve algumas perdas e uma entrada que vai com certeza transcender gerações.
3Estreou este mês nas telonas o filme “As Aventuras de Pi” (2012), baseado no romance “A Vida de Pi”, de Yann Martel. O longa é dirigido pelo ganhador do Oscar Ang Lee, e conta a história de Pi, jovem que sofre um naufrágio e vive algumas aventuras, dividindo o bote salva-vidas com um tigre. A produção traz como protagonista o jovem ator indiano Suraj Sharma, de 19 anos, que segundo próprio Lee, foi selecionado pelos seus olhos expressivos e uma aparência de jovem inocente, assim como o protagonista. Há inúmeras críticas positivas ao trabalho do rapaz, que pode consolidar-se caso invista nos projetos certos.
Mas nem só de chegadas vive a sétima arte. No dia 20 deste mês faleceu, por decorrência de um câncer, a atriz brasileira Thelma Reston. Aos 73 anos, Reston atuou em teatro, televisão e cinema, mídia na qual participou de 40 produções, entre elas, “Terra em Transe” (1967) de Glauber Rocha, O “Homem Nu”(1968 / 1997), “Lua de Cristal” (1990), “Brás Cubas” (1985) e “O Vampiro de Copacabana” (1976), porém o personagem que lhe cedeu verdadeira notoriedade foi Dona Aracy, a Gorda de “Os Sete Gatinhos”(1980), filme brasileiro dirigido por Neville d’Almeida, que por sua vez contou com roteiro baseado em uma obra da mente brilhante e incompreendida de ninguém menos que Nelson Rodrigues.
1Nos palcos, Thelma interpretou várias personagens do escritor, em peças como “Bonitinha, mas ordinária”“Vestido de noiva”. O dramaturgo era admirador do trabalho da atriz e dizia que “uma predestinação” levava a atriz para sua obra.
Mesmo com um currículo bastante extenso para parâmetros em participação em filmes nacionais, a atriz é mais conhecida por seus papéis hilários e interpretações nas novelas da Tv Globo, onde estreou como Arminda, na primeira versão de “Gabriela”(1975). Seu último papel foi como Dona Violante, a ladra da novela “Aquele Beijo”, na mesma emissora.
Outra perda brasileira foi a do ator, diretor e roteirista Jota Pingo, que faleceu aos 66 anos na noite do dia 1°, em Brasília, devido a uma parada cardíaca. Pingo é pseudônimo de Carlos Augusto de Campos Velho, um dos nomes chaves da cultura brasiliense. Natural de Porto Alegre (RS), ele estava radicado na cidade há mais de 30 anos. Sua participação no cinema ocorreu através do documentário chamado “Rock Brasília”(2011), no qual fala-se como foi a descoberta de Renato Russo na cena musical brasileira. Além disso, ele participava bastante de Festivais de cinema ao redor do país e era um agitador cultural de primeira. O Brasil realmente perde muito com a partida de Pingo.
2
Na Europa, mais precisamente em Roma, na Itália, o produtor de cinema erótico Riccardo Schicchi morreu, aos 60 anos, por causa de uma complicação da diabetes que sofria, no dia 10. Foi ele quem descobriu as estrelas de filme pornô: Cicciolina, Moana Pozzi e o ator Rocco SiffrediSchicchi nasceu na Sicília em 1952, era fotógrafo, mas bastou um encontro com a atriz pornô húngara Ilona Staller (Cicciolina), para o mesmo mudar de carreira e se dedicar ao mundo do cinema.
Com a artista húngara fundou em 1983 a agência “Diva Futura”, dedicada a lançar à fama modelos e atrizes no mundo do erotismo, como Moana Pozzi e Jessica Rizzo. Duas curiosidades realmente chamam a atenção em sua carreira: o produtor criou o chamado Partido do Amor, com quatro atrizes pornôs como candidatas ao parlamento – embora em vão, visto que não conseguiu nenhuma cadeira – e, posteriormente, foi condenado, em primeira instância, no ano de 2006, por associação criminosa e instigação à prostituição, sendo detido em 2008 e liberado pouco depois após pagar uma multa de 800 euros pelos mesmos delitos. Nada muito feliz.
4
Fazendo um balanço geral, o cinema teve muito mais perdas irreparáveis do que novidades que chegaram em 2012. É imprescindível ao cinéfilo ou amante da sétima arte que se tenha paciência e perspicácia para não deixar passar nada aos olhos, mesmo isso sendo quase impossível, quando se trata de criticar – construtivamente ou negativamente – um longa. O importante é saber ser justo, algo praticado na“Chegadas e Partidas”.
Para encerrar a última edição da coluna em 2012, segue abaixo um vídeo da participação de Jota Pingo no documentário citado.


atenção: texto redigido para cinesplendor em 2012

domingo, 30 de dezembro de 2012

A Psique do Autor - Um reflexão do centenário de “A Metamorfose” de Franz Kafka

Nem sempre a natureza humana é apresentada de uma forma boa e compreensível. Muitas vezes ela chega a ser repulsiva, desprezível, pessimista e até mesmo desumana em algumas obras literárias e é assim que Franz Kafka (1883-1924) presenteia o mundo com uma das maiores histórias já lidas pelo homem,  A Metamorfose, que em 2012 completa 100 anos. Traz à tona a alma humana, sempre cheia de conflitos existenciais, angústias e preocupações. 

A obra narra a atormentada história de Gregor Samsa, um caixeiro-viajante que se vê obrigado a suportar todas as despesas da família, e que certa manhã, ao acordar para o trabalho, constata que se transformou num inseto. 

Trecho: "Numa manhã, ao despertar de sonhos inquietantes, Gregor Samsa deu por si na cama transformado num gigantesco inseto. "


De início, as suas preocupações giram em torno da impossibilidade de cumprir as obrigações profissionais e manter o sustento da família, mas perante a repulsa familiar (com exceção da irmã, que apenas no início, o alimenta), Gregor Samsa inicia um complexo processo interior de metamorfose, que o conduz a uma análise do seu contexto familiar e social.  Em nenhum momento, Samsa se questionou do por quê daquela transformação.

No decorrer da narrativa, todos recusam ajudar Samsa, remetendo-o à sua solitária agonia e diante deste cenário, uma nova metamorfose acontece: o pai, a mãe e a irmã voltam a trabalhar e a família decide buscar um futuro onde não existe lugar para o personagem principal, sendo ele na visão da família um monstro repugnante. 
Em um determinado trecho do livro, o protagonista pensa que a sua morte poderia ser uma alívio par todos, até para si mesmo.

"Esse sacrifício e transformação na própria carne para salvar o outro, mesmo que às vezes sem se dar conta disso, aparece de forma extrema na “Metamorfose”. Assim, podemos nos questionar sobre qual é o real valor do ser humano perante a sociedade e até mesmo perante os seus." (FARINA, 2007)

Alguns críticos afirmam que o livro tem senso autobiográfico e psicológico do autor Franz Kafka, quando trata do pai de Samsa, o qual é rígido, opressor e até mesmo bruto (quando expulsa o filho da sala, atirando maçãs nele). Sabe-se que a relação de Kafka com o pai Hermann Kafka não era das melhores e isso foi tratado também em seu outro livro: "Carta ao Pai" (1919), quando declara que se sentiu profundamente afetado pelo autoritarismo do mesmo.

O clássico é uma metáfora sobre o absurdo da condição humana, num espetáculo que explora na narrativa uma visão sombria, porém verdadeira da natureza humana, pois enquanto Samsa que virou um inseto, sente intensamente as ações (possui sentimentos verdadeiramente humanos) a sua família (que "estão" humanos), cada vez mais se tornam desumanos com a condição daquele que os sustentava. 

Talvez, também seja possível entender essa metamorfose do homem em animal como uma perda de identidade. Por isso, "A Metamorfose" é um dos clássicos mais fantásticas de Franz Kafka e da literatura do século XX.  É uma obra-prima que transpassou um século e continua atormentar e gerar reflexão sobre a natureza humana. 



segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

E Quem precisa de Natal?! O Grinch




E o Grinch sorria malevolente este malvado e o casaco de papai-noel ele havia criado. O malévolo ria imaginando como seria a travessura que o Grinch aprontaria...”


Sarcástico, inteligente, emocionante, criativo e com uma belíssima produção orçada em 123 milhões de dólares, O Grinch é um verdadeiro clássico de natal no qual critica o consumismo natalino sem ser piegas. O filme é baseado no livro infantil de 1957, "Como o Grinch roubou o natal" (Cia das Letras, 2000) de Dr. Seuss e o diretor Ron Howard (Apollo 13) sabia muito bem o que queria quando levou a obra para o cinema e apresentou o Jim Carrey no papel principal.



A história se passa no reino da Quemlândia (Whoville), lugar onde todos têm adoração pelo Natal, menos uma menininha chamadaCindy (Taylor Momsen) e o rabugento Grinch (Jim Carrey), uma criatura verde e peluda que vive isolada no topo de uma montanha. Cindy não compreendia o motivo de toda a festividade e presentes, já o Grinch possui uma história muito própria para contar e que o leva a roubar o Natal sem mesmo entender o verdadeirosentido dele.

O roteiro foi realizado por Jeffrey Price (Uma Cilada Para Roger Rabbitt) para que deixasse o filme mais atraente a toda família. Algumas situações que não constavam no livro foram acrescentadas e a sátira aos próprios clichês do cinema, como a cena onde o Grinch foge de uma explosão, remetendo ao “clássico”Duro de Matar. Além disso, a direção de arte é fantástica quando apresenta cores natalinas fortes e sombrias, penteados estranhos, carros que parecem de brinquedo e os humanos com cara de ratos, um mundo bem inusitado narrado por nada menos que Anthony Hopkinsou por Antônio Fagundes no Brasil.



A tentativa do Grinch de evitar que o Natal chegasse ao reino (ele literalmente tirou tudo que remetia a festa) não deu certo, pois mesmo sem presentes e decorações, o Natal chegou a Quemlândia. E assim, o Grinch pensou em algo que ainda não tinha pensado: “Talvez o Natalnão se compre no mercado, talvez o natal possa ter muito mais significado.”.

Com o humor e frases rimadas do Dr. Seuss, somado as facetas divertidíssimas de Jim Carrey, o filme traz, como em qualquer conto natalino a lá Dickens, uma lição de moral, neste caso questionando o consumismo excessivo e a incompreensão do ser humano quanto à data,levandoo espectadordas lágrimas ao riso, trazendo sim, o verdadeiro significado do Natal que chega a qualquer pessoa, indiferente do credo, da raça e da condição social.




sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Chegadas e Partidas | Novembro de 2012


Chegadas e Partidas | Novembro de 2012

Novem (nove em latim) é o número de personalidades do cinema que serão abordadas neste “Chegadas e Partidas”, que deu origem também ao nome do mês da vez. O décimo primeiro mês deste ano no calendário gregoriano, ou seja, novembro, não foi muito bom para os estreantes na sétima arte. Já em relação a perdas, pelo menos duas delas foram verdadeiramente relevantes e significativas.
Uma história que já está um tanto comum nas telas do cinema, acaba de revelar uma promessa para a classe de novos atores. A garota que muda completamente seu comportamento após encontrar uma caixa misteriosa e que transforma a vida de seus pais um inferno é Natasha Calis, de apenas 13 anos. No longa “Possessão” (2012), ela interpreta a possuída Emily Brenek e, como estreante nas telonas, mostra o quanto é corajosa ao aceitar um papel como esse, cheio de mistérios e muito terror em Hollywood. Natasha Calis surpreende em cada cena, o que provavelmente fará com que, em breve, seja possível vê-la sem um espírito maligno em seu corpo.
Claude Baz Moussawbaa (esquerda) e Natasha Calis (direita)
O divertidíssimo e não menos dramático filme “E agora, aonde vamos?” (2012), da aclamada diretora libanesa Nadine Labaki, traz a bela atriz Claude Baz Moussawbaa interpretando uma das viúvas que transcendem a visão religiosa da sociedade libanesa, castigada pela guerra. Com ousadia e determinação essas mulheres agem de forma um tanto cômica, quebrando a imagem da realidade naquele lugar – eClaude Baz faz jus a sua primeira protagonista!
Chris Terrio (esquerda) e Joshuah Bearman (direita)
Na categoria roteirista, Chris Terrio e Joshuah Bearman ganham espaço e visibilidade ao assinarem o roteiro de “Argo” (2012), terceiro filme dirigido por Ben Affleck. O jovem nova-iorquino Terrio é também diretor de cinema, embora não muito conhecido, tendo entre trabalhos anteriores o longa “Por Conta do Destino”, de 2005. Já Bearman é jornalista e escreveu para inúmeras revistas, dentre elas a “Rolling Stone”, na qual trabalha atualmente. Por sinal, vale mencionar que o roteiro deste filme foi adaptado de um artigo deJoshuah sobre uma missão da CIA no Irã.
Marcos PauloMas acabam-se as novidades e é chegado o momento das despedidas. Como não poderia deixar de ser, vamos aos nomes que marcaram a história do cinema e deixaram a arte em luto neste mês. O primeiro deles, para o Brasil talvez um dos cineastas mais ativos do momento, foi o paulistanoMarcos Paulo, aos 61 anos. Marcos faleceu no dia 12, de embolia pulmonar. Ele voltava de uma participação no aclamado Amazonas Film Festival, no qual havia sido premiado.
O cineasta começou a carreira aos cinco anos e logo se enveredou para o campo de ator, que prevaleceu durante a vida toda, sendo sempre lembrado como um dos maiores galãs das telenovelas. Em 1977, morou em Nova York, onde fez um curso de direção, e no ano seguinte, estreou como frontman na novela “Dancin Days”. Posteriormente, assinou a direção de inúmeras novelas, seriados e era responsável por um dos núcleos de programas da TV Globo. Em 2011, Marcos Paulo estreou como diretor de cinema no filme que dividiu bastante a crítica, “Assalto ao Banco Central”. Em uma entrevista na época do lançamento, comentou: “É sempre uma situação de frio na barriga, uma certa insegurança”. O diretor tinha planos de gravar um documentário sobre o deserto do Jalapão e já trabalhava na produção do que seria seu segundo longa como diretor, um filme policial, chamado “Sequestrados”.
José Luis Borau
Outra perda lamentável foi a do diretor e roteirista José Luis Borau, de 83 anos. Ex-presidente da Academia Espanhola de Cinema e da Sociedade Geral de Autores e Escritores da Espanha (SGAE), após uma longa luta contra um câncer na garganta, faleceu no dia 23, em Madri. José Luis Borau dirigiu clássicos do cinema espanhol como “Tata Mia” (1986), “Furtivos” (1975) e “Hay que matar a B.” (1975). Também deixou sua marca como produtor e roteirista em longas espanhóis como “Un, dos, tres al escondite inglés” (1970), de Iván Zulueta“Mi querida señorita” (1972), de Jaime de Armiñán; “Camada negra”(1977), de Manuel Gutiérrez Aragón; e “El mono sabio”, de Ray Rivas. Foi ainda distribuidor de filmes, escritor, historiador e professor.
Fernando Casanova
O ator mexicano Fernando Casanova foi outro a falecer, aos 87 anos, devido a um câncer no pulmão. Considerado ícone da era de ouro do cinema mexicano, participou de mais de 170 filmes. Fernando Gutiérrez, seu verdadeiro nome, fez sua estreia em “La vida íntima de Marco Antonio y Cleopatra”, de Marco Antonio, em 1946. Seu último papel foi em “La estampa del escorpión”, de 2007.
Também nos abandonou o eterno Major Nelson da série “Jeannie é um Gênio”, produzida entre 1965 e 1970. Seu intérprete, o ator americano Larry Hagman, faleceu aos 81 anos, no dia 24, em decorrência de um câncer na garganta. Outro papel de destaque em sua carreira foi o vilão J. R. Ewing, na série “Dallas 2.0″, produzida pela TNT. No cinema participou apenas de um filme, “O Barco do Desespero” (1964), no qual contracenou com um então desconhecido e jovem Jack Nicholson.
Larry Hagman
Lucille Bliss
A última partida desse mês foi da atriz responsável por dar voz aSmurfette na série de animação “The Smurphs” dos anos 80. Lucille Bliss faleceu no dia 8, aos 96 anos, de causas naturais. Sua estreia no cinema foi como Anastasia, na animação da Disney “Cinderela“, de 1950. Nos anos 60, dublou Elroy em “Os Jetsons”, e em 2005 fez uma participação no filme de animação “Robôs”. A atriz não teve filhos e nem se casou.
Como diriam os Smurfs: “Esperança, coragem e principalmente amor, é o que faz de você um vencedor”. No cinema também funciona assim, alguns possuem uma dessas características e são lembrados para sempre na história da sétima arte, outros passam como certas nuvens, sem deixar sinal.


quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Livros, Homens e Ratos - Manaus e o acesso ao conhecimento negado


Um país se faz com Homens e livros, mas os ratos estão tomando conta da capital do Amazonas. Há cinco anos a Biblioteca Pública do Estado do Amazonas está fechada. A restauração foi orçada em R$2,7 milhões e terminaria em seis meses, mas hoje está sem data para reabertura. Na mesma situação, encontra-se há quase um ano, a Biblioteca Pública do Município.

Isso reflete o descaso do poder público Federal, Estadual e Municipal com o patrimônio arquitetônico e cultural de Manaus. Para cobrar a reabertura da Biblioteca do Estado, foi organizado um movimento chamado Abre Biblioteca que mexeu com as estruturas do poder público e de acordo com Soraia Magalhães, coordenadora do Movimento: “O que mais prejudica a população é que as pessoas passam a não poder frequentar esses ambientes, onde o acesso a informação e a cultura podem representar oportunidades de transformação social.”


A Secretaria de Infraestrutura informou que a obra foi concluída e dentre os principais serviços concluídos está a troca completa de toda a cobertura antiga do prédio por novas telhas de tipologia do século passado confeccionadas especialmente para atender aos requisitos do prédio histórico. a acessibilidade foi outra marca da obra, com a recuperação do elevador, que permitirá que pessoas com necessidades especiais frequentem os pavimentos superiores do edifício. outra grande adaptação foi o fornecimento e a instalação de um grupo gerador de 44kva de potencia, além da construção de uma plataforma metálica independente na cobertura para acomodar os condensadores de ar, agora do tipo split, e ainda substituição de lâmpadas, realização de pintura em geral, limpeza das infiltrações e outros reparos de menor impacto. Mas ainda não há data prevista para a reabertura.

    A respeito da Biblioteca Pública Municipal a situação é ainda pior, pois as obras nem se quer começaram. A biblioteca chegava a receber cerca de 3 mil visitas. Infelizmente, quando se vai ao local agora, encontra-se apenas um aviso no prédio, assinado pelo órgão responsável da Prefeitura – Manauscult, ressaltando que não tem data de início das obras de reparos na instalação elétrica, hidráulica e física do espaço. Até o fechamento desta edição, não houve retorno dos questionamentos enviados para o mesmo.
            Com todo esse descaso o que fica para se pensar é: Manaus está entregue aos ratos que cheio de doenças, transmitem a falta de responsabilidade e consciência social, educacional e cultural e isso faz mal a saúde mental do manauara. Certa vez, os membros do Abre Biblioteca fizeram uma pesquisa em frente à mesma perguntando às pessoas que estavam por ali: ‘O que é isso aí?’. A maioria não soube responder, ou seja, não reconheciam aquele local como referência para a cultura e mesmo história da cidade. Realmente, chega-se a conclusão de que o conhecimento está sendo negado pelas autoridades.


***Texto produzido por mim para Jornal Laboratório: Contexto, modificado levemente para o Primeiras Impressões.

Convite para uma nova Manifestação do Abre Biblioteca:


domingo, 25 de novembro de 2012

Síndrome da Era de Ouro


Como seria bom viver na época dos grandes clássicos do cinema, quando ainda se produzia filmes em preto e branco e os atores eram artistas por excelência; a música, a história, os diálogos, tudo era uma verdadeira Obra-de-arte. Não é difícil imaginar o quanto isso faz falta na vida de uma garota que adora o passado e praticamente o revive quase todos os dias desde os 12 anos.

Cinema é viver no passado e pensar no futuro. Chaplin, Leigh, Gable, Barbra, Audrey, Bogart, Ferrer, Peck, Bergman, Astaire, Allen e tantos outros são o meu vínculo com a sétima arte. Posso dizer que os filmes que assisti desses artistas, me trouxeram uma nova visão de mundo, pois foi preciso senti-los e não apenas observá-los. Neles há uma necessidade incontrolável de vivenciar aquela realidade ou mesmo apenas uma cena, que muitas vezes é mais parecida com a vida do que se imagina.

Acima de qualquer outro, preciso citar três obras-primas as quais sempre me emocionam bastante.  E o vento levou é a primeira delas, considerado o clássico de todos os tempos, lembra a história da minha família, cuja heroína, ou melhor, anti-heroína, Scarlett O’Hara é praticamente a minha avó. O segundo é Funny Girl, da Barbra Streisand, com belas canções, que me remetem aos grandes musicais da Broadway e diálogos dramáticos que tanto me fascinam e por último, Bonequinha de Luxo, com Audrey Hepburn, no qual há toda uma sutileza na trama, mostrando a fuga da realidade da protagonista.

Mesmo os clássicos regendo essa vida que vos fala, não devo me esquecer dos demais, nem tão antigos e nem tão recentes, como os filmes dirigidos pelo Tim Burton, Peter Jackson, Scorsese, Ang Lee, além dos roteiros do Charlie Kaufman. Lembrando também das inesquecíveis aventuras e batalhas que marcaram a minha infância como: De volta para futuro, Karatê Kid e Guerra nas Estrelas, este último até me rendeu um prêmio de melhor Crônica em Jornalismo Opinativo, no Intercom em 2012.

Além disso, outra coisa me encanta e conecta a essa arte: a transposição da Literatura para as telonas, como por exemplo, os filmes baseados nas obras da escritora inglesa Jane Austen (represento a JASBRA - Jane Austen Sociedade do Brasil no Amazonas), Shakespeare, Oscar Wilde, Machado de Assis, entre outros.

Para se classificar um filme, nem sempre é necessário ser um profundo conhecedor do audiovisual, mas cursei duas disciplinas de Cinema e Literatura Francesa, nas quais aprendi o essencial sobre esses filmes. No meu blog “Primeiras Impressões”, onde escrevo sobre tudo, desde Literatura até pensamentos do dia-a-dia, tem uma resenha do filme “O ano passado em Marienbad”, clássico de Resnais e roteiro de Allan Robbe-Grillet que exemplifica muito bem a minha relação com os clássicos franceses.
A questão nostálgica de querer viver num tempo, que não é o seu, realmente é o que mais me seduz no cinema. Essa contemplação dos filmes na minha vida funciona de uma forma simples, dinâmica e ao mesmo tempo genial, repleta de romances, aventuras e literalmente, clássicos. É quase inexplicável a magia que tenho com eles: Faz parte de mim, do que eu sou e do que eu quero.

*Esse texto foi produzido para meu ingresso num site de cinema, espero que gostem.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Chegadas e Partidas | Outubro de 2012


Chegadas e Partidas | Outubro de 2012

A história do cinema é repleta de glamour, mistérios e tragédias. Assim como nos filmes, a vida dos profissionais da sétima arte – sejam diretores, roteiristas ou atores – prova, mais uma vez, que ninguém foge ao seu destino, seja ele bom ou ruim, determinando o início ou o fim de uma carreira.
O mês de outubro contou com inúmeras perdas para o cinema, principalmente na categoria diretor. Uma dessas perdas ocorreu devido ao falecimento de Claude Pinoteau, aos 87 anos, em Paris. O cineasta francês começou sua carreira no final da década de 40, como assistente de direção. Seu primeiro longa foi lançado em 1973, sob o título de “Les Silencieux”, seguido, no ano seguinte, por “La Gifle”, protagonizado pela então desconhecida atriz Isabelle Adjani. Mais tarde, já em 1980, rodou “La Boum”, uma comédia que lançou a atrizSophie Marceau ao estrelato.
Pinoteau era muito conhecido pelo suspense e film noir, com estética em preto-e-branco e personagens num mundo miserável. Seu último trabalho foi um documentário para a televisão dirigido em 2005, intitulado“Un abbé nommé Pierre, une vie pour les autres”.
Outra perda bastante significativa foi a de Octavio Getino, espanhol que vivia na Argentina, referência em filmes políticos e sociais. Getino faleceu aos 77 anos, por decorrência de câncer. Um dos fundadores do Grupo Cine Liberación, responsável pela utilização do cinema como ferramenta política, em 1969 filmou o documentário “La hora de los Hornos”, no qual abordou o imperialismo na América Latina.
O cineasta ainda exibiu, em 1971, a entrevista que realizou com o ex-presidente Juan Domingo Perón, registrada nos documentários “Perón, La Revolución Justicialista” e “Péron: Actualización Política y Doctrinaria para La Toma del Poder“. Muitas vezes ameaçado de morte,Getino acabou se exilando em lugares como Peru, México e Espanha. Dentre outras realizações, publicou várias obras, inclusive ganhando um prêmio em 1963, pelo livro de contos “Chulleca”.
A respeito de partidas do núcleo de atores, foram poucas. Dentre elas, aos 77 anos, Alex Karras, em decorrência de um câncer. Ex-jogador de futebol americano do Detroit Lions e comentarista de um programa de tv, Karras enveredou em 1970 para carreira de ator, participando de filmes de comédia e musicais como “Victor ou Victoria” (1982), dirigido por Blake Edwards (“Bonequinha de Luxo”, de 1961) e contracenando com Julie Andrews , protagonista da produção. Outra obra que contou com sua presença foi “Porky’s – A Casa do Amor e do Riso” (1982), longa que influenciou roteiristas de gênero comédia para adolescentes, porém o ator ganhou fama mesmo ao participar da série “Webster“, exibida de 1983 à 1989 na televisão americana. Entre outros créditos estão alguns livros sobre sua vida como atleta e astro de tv.
Mantendo o foco nos atores, há também a atriz Sammi Kane Kraft, de 20 anos, morta em um acidente de carro em Los Angeles. A jovem havia participado da comédia “Sujou…Chegaram os Bears”, de 2005, e ainda não tinha uma carreira expressiva no cinema.
Do núcleo brasileiro uma perda representativa foi a de Regina Dourado, conhecida por vários papéis de destaque na teledramaturgia global, como a dona Lucilene, mulher de Salgadinho na novela “Explode Coração” (1995). A atriz faleceu em decorrência de um câncer, aos 59 anos, mas também deixou sua contribuição para o cinema nacional, como sua participação no filme “Amante Latino“, de 1979, no qual interpretava uma cigana dançarina, e sua estreia, em 1984, em “Baiano Fantasma“. Dourado chegou a ganhar um prêmio da crítica no Festival de Gramado, pelo longa “Tigipió – Uma Questão de Amor e Honra”, de 1986, e já na década de 90 atuou em “Corisco e Dada“, “No coração dos Deuses” e “Corpo de Delito”, vencedor do prêmio Sesc – São Paulo.
Entretanto, a perda mais chocante do mês fica a cargo da pérola cinematográfica do erotismo, Sylvia Kristel, atriz que se eternizou no clássico erótico “Emmanuelle” (1974). Devido a um câncer, Kristel faleceu aos 60 anos, em Amsterdã. A holandesa se tornou um ícone da liberação sexual na década de 70, quando protagonizou uma jovem casada que vivia um relacionamento aberto com marido e expressava sua ardente sexualidade, experimentalismos e sexo livre em lugares exóticos com seus inúmeros amantes. O filme foi baseado no romance autobiográfico da francesa Marayat Bibich, sob direção de Just Jaeckin, e surpreendeu tanto que em países como França e Japão permaneceu em cartaz por mais de uma década.
Além das sequências de “Emmanuelle“, Kristel atuou em cerca de 50 filmes, a maioria com conteúdo erótico, trabalhando com o diretor Alain Robbe-Grillet em “Jogo de Fogo“, de 1975, também conhecido pelo teor sexual em suas obras. Na filmografia de Kristel, é possível ainda destacar um outro longa belíssimo: “O Amante de Lady Chatterley” (1981). A adaptação da obra-prima de D.H. Lawrence contou com Sylvia no papel de esposa solitária de um rico aristocrata que ficou paraplégico, permitindo que ela tenha um amante que satisfaça todas as suas necessidades e fantasias.
O câncer da atriz, que enfrentou problemas com drogas, foi diagnosticado em 2003. Ela foi casada com o escritor Hugo Claus e teve um filho. Sylvia Kristel lançou em 2006 uma autobiografia, intitulada “Nua”, na qual fala sobre todos esses anos felizes e conturbados de sua vida.
Mas vamos encerrar as histórias tristes e despedidas singelas, pois os novos talentos do cinema merecem o seu espaço e alguns até são promessas para a sétima arte nos próximos anos. Uma das possíveis futuras estrelas é a búlgara Nina Dobrev, famosa pela ex-humana e recém-vampira Elena Gilbert da série de sucesso “The Vampire Diaries”. Nina pode ser vista nos cinemas através de sua participação especial no filme “As Vantagens de Ser Invisível” (2012), do autor e diretor Stephen Chbosky. O papel da atriz é secundário e bem diferente da série, mas estritamente importante na vida do protagonista: ela dá vida a Candace, irmã mais velha do problemático Charlie (Logan Lerman), que oferece uma nova perspectiva para o irmão se tornar bem diferente.
A propósito, novato na categoria, Chbosky escolheu mostrar os problemas dos adolescentes baseado no seu próprio livro, que leva o mesmo título, alterando passagens de forma a intensificar e adaptar corretamente a obra para o formato audiovisual. O cineasta conseguiu transformar um assunto batido, com dramas vividos na fase mais perturbadora da vida de muita gente, seguindo um caminho distinto, abordando temas complicados sem ser superficial e escolhendo um elenco que está conquistando seu espaço. No filme, o trio composto por Logan Lerman, de “Os Três Mosqueteiros” (2011), Ezra Miller, de“Precisamos Falar Sobre Kevin” (2011), e Emma Watson, a bruxinha Herminone da saga “Harry Potter”, pode ser visto interpretando papéis mais densos do que normalmente se veria numa produção tipicamente adolescente e americana. Chbosky surpreendeu a crítica com o seu extremo bom gosto e qualidade, tanto na produção e roteiro, quanto na direção.
E no Brasil, mais precisamente no nordeste, também temos nosso destaque: Nivaldo Expedito de Carvalho, mais conhecido por Chambinho do Acordeon. Agora ator, Nivaldo é interprete da versão de Gonzagão no auge da popularidade no filme“Gonzaga – de Pai para Filho”. Ele foi escolhido entre mais de cinco mil candidatos e apesar da grande responsabilidade de interpretar o rei do baião em seu primeiro papel, não deixa a desejar – embora também não impressione.
Assim, como em qualquer arte, o cinema tem dessas coisas: aqueles que impressionam logo na primeira aparição e outros que às vezes precisam apenas de mais uma oportunidade…quem sabe? Até o próximo mês, com mais chegadas em obras cinematográficas e (menos) partidas na sétima arte.